terça-feira, 19 de agosto de 2014

Hallelujah...

Leonard Cohen é bem legal... mas essa música só se torna incrível na voz de Jeff Buckley...


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Porque hoje acordei assim...


    Análise

    Tão abstrata é a ideia do teu ser
    Que me vem de te olhar, que, ao entreter
    Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
    E nada fica em meu olhar, e dista
    Teu corpo do meu ver tão longemente,
    E a idéia do teu ser fica tão rente
    Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
    Sabendo que tu és, que, só por ter-me
    Consciente de ti, nem a mim sinto.
    E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
    A ilusão da sensação, e sonho,
    Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
    Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
    Do interior crepúsculo tristonho
    Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
                  

    Fernando Pessoa

quinta-feira, 22 de maio de 2014

... quando NELE, eu sou mais feliz...

Tínhamos marcado em um bar.

Eu, para variar, fui dar uma olhada no Google, e aproveitei para ensaiar o caminho.

Cheguei primeiro. Mandei uma mensagem e pedi uma Coca.

Meu coração batia tão forte, que dava para enxergar o ritmo nas veias do meu pescoço. Queria respirar dentro de um saquinho de papel para me acalmar.

Entre a Coca e a chegada dele, foram pouco menos de dez minutos. Minhas mãos suavam.

Quando o avistei se aproximando, quis sorrir, mas minha bochecha tremeu.

E ele sorriu.(Droga!)

Eu estava a dois segundos de me apaixonar.

Pediu uma cerveja. Ainda tinha coca-cola no meu copo.

Eu tentava me controlar, mas comecei a sentir muito calor. Tirei a blusa. Falei uma meia dúzia de bobeiras. Minha desenvoltura some quando me boto muito tímida.

A gente foi conversando, foi se aproximando. As pernas se encostaram.

E foi assim, meio que por sorte, meio que por disposição, que descobri que, quando NELE, eu sou mais feliz!!!
















terça-feira, 20 de maio de 2014

O amor é sorte!

O amor é uma luz acesa, meia dúzia de "sim" e um punhado de coragem.

O amor é um balanço. Não, não, uma gangorra!

Sobe e desce.

E precisa de dois.

O amor é sorte!






segunda-feira, 19 de maio de 2014

A curva da cintura

Parando pra fazer uma analogia básica, pensando sobre carros e corpos, a cintura é, definitivamente, o volante do corpo.

Definitivamente.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O amor é isso, e aquilo...

Because I love you... inside and out...

O amor é o espaço entre um apertão e um suspiro... E algumas onomatopeias...




sexta-feira, 9 de maio de 2014

Sputnik

No camarim, sento no canto, enquanto tomo uma tônica.

Todo mundo agitado, no vai-e-vem dos autógrafos e dedicatória.

- "Esse é para quem?"

- "Paula"

- "Arranja outra caneta, essa não quer pegar..."

Sobe gente, desce gente. Fumaça, conversa, todos rindo.

Uma moça me abraça, e me dá os parabéns. Abraço de volta, embora não seja meu aniversário. E ainda agradeço. Gosto de ganhar abraços. E ela elogiou meu cabelo, me chamou de linda... gosto quando quando me chamam de linda.

O camarim é invadindo por um sotaque gostoso. Eu só faço ouvir. Tem um acento diferente, uma coisa cantada, um ritmo que te faz sentir vontade de falar igual. 

Observo da cadeira. Delicio-me atentamente com cada assunto: álbum da copa, a programação da noite...

A voz grossa que se destaca no grupo do frevo, me mira, e dispara:

- "E você, que está aqui, em nossa órbita... como se chama?"

- "Sputnik..." respondi. -"Mais para o tipo 'Murakami' do que do tipo 'Laika'"

Ele achou graça. Embora eu pudesse jurar que nada tinha entendido do que eu disse...

Mais risos. Mais abraços.

Despeço-me.

Sozinha, desço a "Angélica" distraída pela fome.

Resolvo comer.

Café. Torta de frango. Doce de leite.

"Sputnik... de onde eu tirei essa resposta?"

Amanhece na cidade. 

Já é hora de voltar para a casa...














segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mirão, o contador de histórias

Nesse sábado, passou um filme na TV aberta baseado numa história real, sobre um menino que se torna um incrível contator de histórias.

O que me levou direto para os verões da minha infância.

Eu tive um contador de histórias.

Mirão era um cara que fazia com que todas as crianças ignorassem o sol, a praia, a piscina e as raspinhas de groselha com leite condensado. Puxava uma conversinha sentado na varanda, e em poucos minutos estávamos todos lá, em volta dele, ouvindo os "causos" de filhas "Marias" que viravam bruxa, e filhos "José" que tronavam-se lobo na lua cheia.

Mirão era nossa Sherazade do meio-dia. As mães nos recolhiam para não nos queimarmos com o "sol do câncer", e ele nos entretinha com o conversê. Muito melhor babá que Mary Poppins.

Ficávamos quietos ouvindo, e ao mesmo tempo excitadíssimos. 

O canavial era sempre cenário de grande horrores. A Bahia, terra natal do nosso Lovecraft, dava o acento no sotaque.

Tardes e mais tardes ao som da voz grossa e sorriso largo do Mestre Capoeirista por paixão, e "historinhador", por eleição. Não servia outro adulto. Tinha que ser o Mirão.

Os verões iam e vinham, junto com o tempo que ditam as estações.

Mirão, que nasceu Emílio, era hipertenso e diabético.

Numa dessas ciladas da vida, ele foi golpeado, e não teve cor de cordão que lhe desse habilidade para se defender.

Morreu aos 61 anos, sem que tivéssemos tempo e tecnologia para guardar em vídeo as histórias que nos contava.

Mas guardamos algumas no coração. Não tão bem contadas, com um detalhe ou outro faltante.

Penso na velha roda de molecada na antiga casa da tia, com olhos esbugalhados, com o coração batendo forte, prestando atenção no Mirão. Espero que essa próxima linhagem, de filhos dos filhos, possam passar ao menos um verão assim.

Que a vida seja generosa, e traga um contador de histórias para eles também.

Nem precisa ser como o Mirão. 

A verdade é que nunca haverá um outro... ele era único. Mestre, na arte da capoeira, e na arte de nos encantar.

Sentimos saudades mestre!

Todo verão! 

E nos inspire, sempre que puder...


sexta-feira, 2 de maio de 2014

"O amor é mecânica quântica"





O amor é mecânica quântica.

É a prática do princípio da incerteza.

O sentimento amor, junto com um frasco contendo o veneno radioativo da incerteza é posto em um coração lacrado, protegido contra a incoerência do medo induzida pelo ambiente. Se um desses relógios, marcadores de tempo em horas, detectar algum tipo de dúvida, então o frasco de incerteza é quebrado, liberando o veneno que mata o amor. A mecânica quântica do amor sugere que, depois de um tempo, o amor estará simultaneamente vivo e morto. Mas, quando se olha para dentro do coração, apenas se vê o amor ou vivo, ou morto, e não uma mistura de vivo e morto.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Mourir Auprès de Toi

E esse é o meu preferido quando penso em Jonze...

Não só por conta de toda essas referências literárias, mas, principalmente, porque nesse romance tem um delicioso humor...

E acho, inclusive, que a rima perfeita para "Amor" é "Humor"...

Ah, vá... Caymmi rimou "mar", com "voltar" e "chegar". Qualquer rima é melhor que isso.

E outra... todas as rimas de amor são ridículas!









sexta-feira, 25 de abril de 2014

Das vontades urgentes...

Porque não existe no mundo, uma vontade que não seja urgente...






terça-feira, 22 de abril de 2014

Despertador

Acordar cedo pós-feriado é violento.

Dói.

Apedreja o corpo.

E o nome "desperta-a-dor" já começa fazer sentido...

Mas, para viver, é preciso se fazer acordar...

Ah, e essa noite, de novo, sonhei contigo...




terça-feira, 15 de abril de 2014

Quando E. E. Cummings já escreveu o que eu queria escrever...

I like my body...

i like my body when it is with your
body. It is so quite a new thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which I will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh...And eyes big love-crumbs,
and possibly i like the thrill
of under me you quite so new 




segunda-feira, 14 de abril de 2014

Confissão

Outro dia, engoli um "eu te amo".

Fiquei ruminando a frase depois. Do estômago, para a ponta da língua. E lá, tive que impedi- la de sair.

Dizem que tem etiqueta para esse tipo de frase. Tem que estar em um relacionamento, desses que tem classificação padrão. E tem que ter um tempo. Tem que ser sólido!

Mas como eu só sinto, não saberei nunca o momento correto de deixar escapar a ingrata.

Talvez o correto fosse dizer "estou te amando... agora, nesse momento".

Amor, acima de tudo, é momento... ou não? (Com sorte, a coleção de muitos momentos)

Creio que seja. 

Outro dia quis dizer "eu te amo". E era verdade. E esse é o momento certo de proferir a bendita frase. Quando é verdade!

Mas eu não falei.

E talvez nunca fale.

Talvez, um dia, só escreva:

"Naquele dia, eu estava te amando".

Talvez ele já saiba.

Ou, talvez, ele nunca chegue a saber...









quinta-feira, 3 de abril de 2014

Coisas Frágeis: A resenha dizendo mais que o próprio livro

"Enquanto escrevo isso, me ocorre que a peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é o modo como elas são na verdade, fortes. Havia truques que fazíamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de não nos darmos conta disso, pequenos salões de mármores capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado de um oceano. Corações podem ser partidos, mais o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, não falhando quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar.

Histórias, assim como pessoas, borboletas, ovos de aves canoras, corações humanos e sonhos, também são coisas frágeis, feitas de nada mais forte ou duradouro do que 26 letras e um punhado de sinais de pontuação. Ou então são palavras no ar, compostas de sonhos e ideias - abstratas, invisíveis, sumindo no momento em que são pronunciadas -, e o que poderia ser mais frágil que isso? Mas algumas histórias, pequenas, simples, sobre gente embarcando em aventuras ou realizando maravilhas, contos de milagres e de monstros, perduram mais do que todas as pessoas que as contaram, e algumas perduram mais do que as próprias terras onde elas foram criadas." 



Coisas Frágeis, Neil Gaiman (o cara dos gibis)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Poemou-se

A parede do quarto, onde a cama ficava encostada, ela pintou com "tinta de lousa". Não a preta. A verde.

No criado-mudo do lado direito, ela mantinha uma caixa de giz.

Toda manhã, antes de sair (ela saía primeiro para o trabalho), escrevia poemas para ele. Poemas que ela adorava. Poemas que ele adorava. E poemas que ambos desconheciam.

Ela deixava que as palavras velassem o sono dele.

Certo dia, desenhou um jardim.

E numa manhã daquelas cinzas de outono, deixou o gajo na companhia de um grande sol.

Um mundo de possibilidades infinitas em uma parede.

E era assim que ela escrevia a própria história. Com giz.

Outra noite, dessas onde a inquietude é a mãe soberana, e onde não há chá que adormeça os pensamentos, com a impossibilidade de fazer uso do recurso da escrita na parede, porque ali outro dormia, resolveu escrever no próprio corpo.

Poemou-se.

Dormiu gente, e acordou rima.

E quando ele abriu os olhos, e começou a ler aquele corpo rabiscado, percebeu que aquilo se tratava de poesia concreta.

Deleitou-se, ele também, com as palavras.













A Garden

Quando todo mundo fala em H. P. Lovecraft, a primeira coisa que me vem à cabeça, não são os mitos que me dão medo... é um jardim...


A Garden

There’s an ancient, ancient garden that I see sometimes in dreams,
Where the very Maytime sunlight plays and glows with spectral gleams;

Where the gaudy-tinted blossoms seem to wither into grey,

And the crumbling walls and pillars waken thoughts of yesterday.
There are vines in nooks and crannies, and there’s moss about the pool,
And the tangled weedy thicket chokes the arbour dark and cool:
In the silent sunken pathways springs an herbage sparse and spare,
Where the musty scent of dead things dulls the fragrance of the air.
There is not a living creature in the lonely space around,
And the hedge-encompass’d quiet never echoes to a sound.
As I walk, and wait, and listen, I will often seek to find
When it was I knew that garden in an age long left behind;
I will oft conjure a vision of a day that is no more,
As I gaze upon the grey, grey scenes I feel I knew before.
Then a sadness settles o’er me, and a tremor seems to start:
For I know the flow’rs are shrivell’d hopes—the garden is my heart!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Conheça Pedro Chagas Freitas


"Ajuda-me que já não sei o que faço com o que te sinto", dizes-me, a voz roçada pelas lágrimas. E eu sorrio, limpo-te as lágrimas. E amo-te.

É sempre com amor que se ajuda quem se ama. 
"Queria viver sem precisar do teu abraço, sem depender dos teus lábios", atiras, enquanto me abraças e me beijas. E a ironia deixa que eu fique em silêncio.
É sempre em silêncio que se ajuda quem se ama. 
Preciso-te para depois do que se sente. Preciso-te para além do que é saudável. Mas quem disse que o amor é saudável?
É sempre com deficiências que se ama com perfeição.
"Abraça-me como se me fodesses" pedes-me. E todo o amor, numa simples frase, fica dito.
Amo-te cada abraço como se te fodesse. Como se por dentro dos braços estivesse todo o prazer do mundo, todo o encanto de existir. Como se não houvesse depois para um abraço que se vive agora. 
É sempre em agora que está o tempo de quem se ama.
"Não quero que me ajudes se não te estiveres a ajudar", explicas, a tua mão a ajudar-me o sexo a erguer-se. E depois chega o momento do corpo, o instante em que todos os suores servem para amar.
Se tiver de beber que seja de ti, se tiver de morrer que seja por ti. Se tiver de doer que seja a sério, sem remissões. Não admito dores pequenas para algo tão grande assim.
É sempre em tão grande assim quando se ama assim.
"Ouço Deus no teu orgasmo", confessas, já ajoelhada diante do que gememos. E nem as paredes conseguem ouvir o que nos dizemos em gritos. E nem a gramática explica uma sintaxe assim: duas orações unidas por um parágrafo no centro do mundo. 
Nem o ponto final nos consegue terminar. Nem a água escorre com tanta força, nem a pedra é tão forte como o que nos ensina. E nenhuma sala de aula tem o que nós temos: dois alunos unidos pela certeza de que só o que se desaprende é capaz de ensinar.
É sempre ignorância amar tanto assim.



Pedro Chagas Freitas



segunda-feira, 31 de março de 2014

Que seja abençoada cada segunda-feira...

Carlos, sossegue, 
o amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Carlos Drummond de AndradeNão se Mate


P.S. : Há quem torça por toda segunda trazer banho com roupas, ao som de Wolfmother... 


segunda-feira, 24 de março de 2014

"Janta"

Do elevador, eu já conseguia ouvir que tocava Otis Redding. Tive certeza do apartamento de onde vinha o som, quando girei a maçaneta da porta.
Entrei sorrateiramente, distraindo-me com a música, e com o aroma de manjericão roxo. 
Botei a bolsa no balcão. Ele estava encostado na pia.
Cortava cebolas, e juro que demorei menos de um segundo para perceber que ele usava uma calça de moletom cinza. Eu tenho um "fraco" por calças de moletom na cor cinza.
Dei-lhe um beijo, e servi-me com água gelada numa taça.
Sentei no canto da cozinha, enquanto o "Chef" desfilava de um lado para o outro, incrementando o jantar da noite.
Não há nada mais sexy nesse mundo, do que um homem cozinhando. Aliás, até há... Um homem cozinhando, enquanto usa calça de moletom cinza, e camiseta branca.
Perguntou-me como foi meu dia, eu só conseguia prestar atenção no movimento do corpo dele. As mãos, o sorriso enquanto falava, os olhos brilhantes, inebriados de lágrimas culinárias. 
Minha boca tocava a taça, e nem aquela água que estava ali, nem toda a água potável do planeta, naquela hora seria capaz de saciar minha sede.
Tirei os sapatos. Desabotoei os punhos da camisa.
Fazia calor na cozinha.
Toda vez que olhava para a pia, minha memória me carregava para a cena fantástica do filme "Atração Fatal". 
Eu disfarçava a intenção. Ele mexia o molho na panela.
E em uma inocência infantil, sem imaginar o que se passava por minha cabeça, botou um pouco de molho na palma da mão e disse: "-Prova!"...
...










quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

"Eu quero levar uma vida moderninha..."

Eu tinha dezesseis, e ele já cursava engenharia. Ligava-me toda noite, do caminho de volta mesmo, para que eu não pegasse no sono antes de nos falarmos.

O xodó dele era o carro. O meu, era ele.

Hoje a gente diz que foi namoradico, mas na época, nunca nada foi assumido.

Dizem que pessoas nascidas sob o signo de escorpião são super ciumentas. Eu acho uma grande bobagem. Eu sou escorpião. E não que eu não seja ciumenta, mas o fato é que não acredito em astrologia. No meu caso, juro que é só coincidência.

Então, escorpiana (fato irrelevante) e ciumenta (esse já é relevante), tinha crises em certos dias. Nada muito grave. Alguns ataques eram até engraçadinhos. Eu era meio banana, e caía em qualquer provocação.

Para abertura do ano letivo na faculdade dele, o Ultrage a Rigor foi fazer um show. Os celulares eram grandes, monstruosos, e você tinha que entrar numa fila de espera enorme para conseguir uma linha. Ele tinha um celular. E quando o Roger começou a cantar "Ciúme", ele correu me ligar:

- Oi!
- Oi... que barulheira é essa?
- Nada... ouve isso aqui ó...

Roger cantava o refrão, quando ele, praticamente, o obrigou  fazer o celular de microfone...

Eu ria do lado de cá da linha.

Quando terminou a música, ele voltou a falar comigo. Rindo, disse que aquela era a minha canção.

Tinha um tico de verdade nisso.

Ficamos juntos por mais um tempo, depois nos separamos. Continuamos amigos. 

Ele trocou de faculdade, e começamos a estudar na mesma instituição. Íamos juntos no carro. Eu tinha um namorado chatico nesse tempo, e ele namorava outra "Jéssica". Permanecemos amigos. Desistimos desses pares.

Arrumei outro namorado, segui loba solitária. Ele construiu uma família linda, e deixou pra trás as farras de garoto.

Estamos adultos, mas carregamos nossa canção. Um segredo meu, dele e do Roger, que torna a nos visitar toda vez que toca no rádio... e que faz brotar um sorriso, daqueles que florescem das boas lembranças.

Hoje contei essa história para um amigo na volta pra casa. O rádio me forçou lembrar. Foi mais ou menos assim...











terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

"Morno"

Pinguei as cinco gotas de adoçante na xícara, e só depois percebi que não tinha café.

Que doce metáfora para a vida.

Sou dessas otimistas que confiam que sempre terá café na garrafa.

E pior que não ter o café, é ter um café morno.

E a merda é você descobrir o café morno, depois da primeira talagada.

Não vai gente... café morno não vai...

Café morno, a propósito, também é outra metáfora.




segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Há que se inventar o amor

Dizem que o amor morreu. Mas eu duvido que um dia ele tenha existido.

Quando Adão reconheceu Eva, não foi amor. Foi algum tipo de carência mútua, onde os dois se faziam companhia e desfrutavam de sexo sem compromisso, já que não havia cerveja ou um baralho com cartas para jogarem truco. Aquilo nunca foi amor.

Dalila nunca amou Sansão. Cleópatra não amou Júlio César, nem Marco Antônio. Em todos esses casos, era disputada de poder, muito de vaidade. Nada, nada de amor.

Julieta nunca amou Romeu. Aquele aperto no peito que ela sentia, vinha do espartilho que acentuava a cintura. Isso a confundiu. E que fim trágico os dois tiveram.

Ao considerarmos os espartilhos, durante toda a idade média, não houve amor.

Édipo até que amou Jocasta. Mas parece que esse tipo de amor não era bem aceito pelos psiquiatras. Sorte dele ter nascido filho de Jocasta, e não de Medéia.

João não amava Teresa. E Teresa tampouco amava Raimundo. E o resto do poema segue no mesmo ritmo. Só Lili que estava certa, e admitia sem medo, o vazio do próprio coração.

Marília e Dirceu nunca se amaram.

Nem os casais que se encontraram no Tinder.

O amor ainda não foi inventado.

Há que se inventar o amor. 






quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ame Drummond

Uma semana toda, apaixonada por Drummond.

Parece que o descobri outro dia.

Talvez seja presente da idade reconhecê-lo assim, tão arrancador de delírios. A cada pequeno poema, um sorriso.

Como eu nunca percebi antes?

Amei Drummond essa semana, como o mundo ama Fernando Pessoa. E é certo que no mar de Drummond, tenha menos lágrimas. 

Para dividir meu amor, cá deixo com vocês "Necrológio dos desiludidos do amor". Porque só a poesia é cura sem prescrição médica...

Um pouco de cura, para vocês... 



Necrológio dos desiludidos do amor



Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles. 




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

"Toda dor é passageira" (do tipo que passa, não do tipo que se deve dar carona)

Não se sentia ela mesma quando calçada.

Adorava a sensação dos pés no chão.

No asfalto quente, saltitava com meia- ponta, imitando uma quase dança.

Encardia os pés de propósito, só para na hora no banho, sentar no chão do box e esfregá-los com força. Nessa hora, ela dizia voltar a ter cinco anos... ah, muitos múltiplos de cinco já haviam passados por ali.

Outro dia andando na terra, teve o pé perfurado por um espinho. Mas é isso que dá quando se anda descalço... o pé acaba machucado.

Mas ela não ligava.

Ela não tinha só os pés descalços... tinha o corpo todo "descalço"...

E não tinha dor de espinho que ela não soubesse que passava.

Basta uma pinça, e um pouco de tempo.

É preciso saber da dor, pra saber que ela passa.

Toda dor é passageira...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Amar acaba com todas as verdades que conhecemos

Ele é um homem de lata, e ela não é a Dorothy.

Em algum lugar do passado, ele entregou o próprio coração, acreditando ser uma prova de amor.

Ela, nunca acreditou que corações devessem ser arrancados do peito. Sabia que ninguém era capaz de cuidar de dois corações.

Ele corria pela estrada de tijolos amarelos com o peito rasgado. 

Ela seguia pelo mesmo caminho, sem saber o que procurar.

Num belo dia, se cruzaram.

Ela viu o peito vazio do homem de lata.

Ele, cansado de tanto correr sem um coração, só queria fechar os olhos, sem nada sentir.

Ela apaixonou-se de imediato por aquele homem de lata. 

E como primeiro impulso dos apaixonados, pela primeira vez, quis doar o próprio coração...

Amar acaba com todas as verdades que conhecemos.

Uma matemática errada, e outra verdade: "Dois corpos não sobrevivem com um só coração"






sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

" A despedida"

Depois de nenhuma briga, nenhum atrito, mas também, de nenhuma perspectiva de futuro em comum, decidiram que já era hora de cada um seguir o próprio caminho. Dizem que os grandes casais tem isso, planos de uma vida juntos. Com os dois, não era assim. Só havia uma vontade de estarem juntos.

Decidiram então, marcar um jantar de despedida.

Ele, comprou o vinho branco seco que ela adorava, para acompanhar a massa com frutos do mar que com tanto capricho escolhera no bistrô perto do trabalho.

Ela, preparou um pudim de leite condensado. Preparou também o cabelo, as unhas e passou o melhor perfume. Ela sempre achou que despedidas rendiam mais canções e poemas do que os encontros. E ela tinha razão... Comprou uma rosa para enfeitar a mesa.

Quando ela chegou na casa dele, já estava tudo arrumado. A mesa posta. Velas acesas em taças coloridas de champagne, improvisavam um castiçal. Ela sorriu, e colocou a rosa ao centro para enfeitar.

Ali sentados, conversando sem o medo do peso de uma palavra errada, sem estarem se seduzindo o tempo todo, sem a necessidade de serem perfeitos, arrancaram-se sorrisos, como nunca antes tinham conseguido. Estavam despidos da vaidade. O jogo tinha terminado. Estavam assistindo o último capítulo do sitcom do qual eram o casal principal. Já sabiam que tudo na vida era finito. Estavam fazendo do limão, uma limonada.

A certa altura do jantar, beijaram-se. Como nunca haviam se beijado. Beijaram-se como se fosse o último beijo. 

Entregaram-se um ao outro, como se fosse a última noite da vida deles. Renderam-se à exaustão. Abraçaram-se sem deixar espaço para as gotas de suor escorrerem pelos corpos.

E como a noite não dura para sempre, chegou a hora da despedida.

Os passos dela eram curtos, e nada apressados. Atravessou a sala com um nó na garganta. Salto na mão, pra não incomodar os vizinhos. Entrou no elevador com os olhos marejando. 

Ele continuara dormindo no quarto. Quando acordou, já não a percebeu pela casa. Pensou que enfim, estavam livres. Desatados. Como sempre estiveram, mas agora, de uma forma diferente.

Dois dias depois da despedida, ela recebe uma mensagem pelo telefone. Ela senta, respira fundo, lê e relê sem saber o que pensar. 
- "Eu acho que a gente podia se despedir novamente"...

Naquele mesmo dia, mais tarde, lá estava ela, passando o melhor perfume, arrumando os cabelos, escolhendo uma roupa no armário....

Ele dessa vez, tinha escolhido um Prosecco. Sabia do apreço da moça por comemoração com bolhas.

Jantaram. Abraçaram-se. Jantaram-se. Mais amor de sobremesa...

Desde então, já faz vinte anos que eles se despedem todos os dias...

E enquanto eles não acertam sobre o fim, a vida passa. E os dois seguem se despedindo, felizes!










terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Um brinde...

Aos que andam descalço, aos de bom coração e aos que conhecem o medo, e mesmo assim, não se deixam paralisar por ele...

Porque a vida é curta demais para ficar me perguntando com que roupa que eu vou...

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

"Vício"

Estar com ele me fazia bem para o corpo.

Tá certo que não fazia bem para minha sanidade. Em vez de contar carneirinhos, depois de tantas noites acordada , e com a cabeça cheia de dor por conta do sono, já os matava. E essa carnificina também não me fazia dormir.  

Mas meu corpo encontrava paz quando encontrava o corpo dele. Uma paz que nunca havia provado até chegar até ali, naquele lugar.

Eu eu já não sabia o que escolher.

Se a paz do corpo, ou da alma.

Eu queria mesmo era não ter que escolher.

Uma noite de sono já me bastaria.

Eu precisava mesmo, era dormir... dormir sem matar carneiros. Dormir, sem o pensamento nele. Dormir. E só dormir.

Sempre desconfiei que o desejo tinha a dinâmica do vício. E eu estava certa.

Eu gostava mais quando só existia a cafeína de vício na minha vida...



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

"Todos os vídeos de amor são ridículos"

Todas as cartas de amor são ridículas. (O poeta já nos contou).

Todos os vídeos de amor também são ridículos. Com uma dose de ansiedade, eles conseguem ser ainda mais ridículos.

Também gravei em meu tempo vídeos de amor,
Como os outros
Ridículos.

O amor tem disso. De nos deixar com coragem para fazer o ridículo.

E eu adoro essa falta de senso.

Aqui abaixo, o vídeo ridículo que um dia eu fiz. Já faz um tempo. Data da época da Queda da Bastilha.
Hoje em dia, eu não teria coragem de fazer algo parecido. Pelo menos, não com essas roupas...

E vocês por aí, dizendo que não sou romântica...








quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Parabéns... atrasado!

E eu, pela primeira vez em quase vinte anos de amizade, esqueci o aniversário do Xoxó.

Foi ontem.

Ele, inclusive, me ligou no final do dia para que eu não deixasse de dar os parabéns... e eu acabei não ouvindo o celular.

Queria estar me sentindo quite com ele. Afinal, ele também não me ligou no meu aniversário do ano passado. Mas não funciona assim. 

Meu esquecimento foi legítimo, não foi de propósito. O que torna o peso na minha consciência ainda mais terrível de ser carregado.

Prometi pagar uma cerveja, mas ainda penso que seja pouco.

Por isso, registro aqui um pedido de desculpas oficial, legitimado por um sentimento sincero e dolorido cá dentro do peito. 

Espero que aceite. Com carinho e um sorriso. 

E se estiver muito bravo, não risque meu carro, por favor!

Vida longa e próspera amigo! 

Pode escolher a marca... é por minha conta! =]








quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

"Benefícios do tempo"

Eu o amei tanto, que no dia que descobri que ele me traiu, a dor foi física. Como se tivessem me decepado um braço. Sem anestesia...

Nem conseguia comer.
Por dias, fui tomada por uma tristeza tão profunda, que só um copo de suco era suficiente. Fiquei magra! Todo médico deveria recomendar essa dieta: "Sofra uma decepção enorme, e mantenha com exercícios"...

Achei que nunca mais fosse me recuperar. Eu queria dormir, e só acordar depois que tudo aquilo tivesse passado.

Aí a mãe, com sábio mantra herdado da Vó, só repetia: "-Calma filha... isso vai passar".

Foram necessários alguns meses repetindo para mim mesma o mantra na frente do espelho, para desatar o nó da garganta.

Três anos depois da separação, recebi um e-mail com o pedido de desculpas.

Eu li o e-mail. 

Eu já não sentia amor. E até a dor, acreditem,  já tinha passado. Aceitei as desculpas.

Só não vi lógica em nos tornarmos amigos. Questão de confiança... já tinha se quebrado.

Hoje, depois de ter aprendido a lição, eu sei que tudo vai passar. Tanto a dor de um coração partido, quando as alegrias da nova paixão. 

Por sorte, tudo na vida é efêmero. E, por ser assim, é só colocar a importância devida em cada situação. 

É preciso respirar fundo e ter calma. E confiar no tempo. Ele se encarregará de tudo.









terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"Das canções para te cantar"


Até Chegar No Mar

Trupe Chá de Boldo

Pra você que transforma brisa em brasa,
Fóssil em míssil.
Pra você que transforma rímel em rima,
Fuga em fogo.
Pra você que transforma linha em lenha,
Careta em carinho.
Pra você que transforma calma em chama,
Cama em caminho.
Pra você que transforma rambo em rimbauld,
Pouco em palco.
Pra você que transforma acordo em acordes,
A dor em roda.
Pra você que transforma heavy em leve,
Cansaço em canção.
Pra você que transforma em mim o que virá em verão.

Eu canto, meu amor, até chegar no mar.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Supernova

Porque dos nossos encontros, nascem supernovas...

E não há Aldebaran (a estrela, e não o Cavaleiro de Ouro) que brilhe mais, ou Sol que mais aqueça.

Nem estrela antiga que ainda se reflita no céu.

Dos nossos encontros, nascem supernovas...

E elas morrem, em toda despedida, em toda contagem regressiva do elevador...












quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

No tempo do "Pager"

Gostava do tempo do pager...

Lembram?

A gente discava para uma central, passávamos o código da pessoa que iríamos enviar a mensagem e ditávamos palavra por palavra...

Não podia enviar palavrão. Política da empresa.

Não podia nem insinuar palavrão. Sei disso, porque teve uma vez que tentei camuflar uma frase ditando "Ilha da Uta"...

Mas eu enviava um monte de mensagem bonitinha. Até trecho de música. 

Em um dia de muita inspiração, a atendente, depois de repetir minha mensagem, perguntou toda derretida se podia enviar a mesma frase para o namorado...

Eu expliquei que a frase não era minha, era do Fernando Pessoa. 

Ela então me perguntou se eu achava que ele se importaria se ela enviasse a frase para o namorado dela...

- Não amiga... ele não irá se importar... tenho certeza!

Ah, eu me divertia à beça na época do pager...







quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

"Dois esquisitos"

No meio da turma, éramos dois esquisitos.

Enquanto todos falavam de baladas, citávamos Augusto dos Anjos e Machado de Assis em nossas conversas. Passávamos longas horas discutindo sobre a fidelidade (ou não) de Capitu. Longas horas também gastávamos, argumentando sobre o charme do Wolverine, os poderes de Bob Esponja do Aquaman, o quanto a Vampirella era sexy e os motivos pelos quais eu não poderia ser a Zatanna. Eu sempre quis ser a Zatanna.

Ele me apresentou Neil Gaiman. Falava-me sobre Sandman, como quem conta histórias para crianças dormirem. Eu, sentada na garagem com as pernas balangando, ouvia com atenção enquanto devorava batata pringles.

Ele era nerd. Estereótipo perfeito. Com óculos e tudo.

Eu era eu. Com coturnos nessa época. Um pouco mais ácida que hoje. Indócil, como sempre. Mas a gente se dava bem.

Trocávamos sorrisos. E músicas.

Nos fizemos cds no melhor estilo "Rob Gordon". O que era um problema, porque eu adorava Rock, e ele era totalmente alternativo. Compensávamos com o mesmo apreço por Nick Hornby. 

Éramos amigos. Sucumbimos à friendzone. Nada brota no árido terreno da friendzone. Mesmo quando o Henrique contesta que "até no inferno há esperança". (Quando Henrique usou esse argumento, tive que lembrá-lo sobre o que acontece quando raposas se apaixonam por monges).

Éramos incríveis, mas éramos só amigos. E a vida sempre pede um romance.

Eu me apaixonei por outro. Ele se apaixonou por outra. Eu quase me casei com esse outro. Ele se casou com outra. E seguimos nossas vidas.

Mas não raras as vezes, sinto falta dele. Sinto falta das nossas conversas. Sinto falta do olhar por cima dos óculos reprovando meus comentários infames.

Sinto falta em dias como hoje, que recebi uma notícia ruim, e só preciso ficar sentada, com alguém do meu lado, dividindo um pote grande de sorvete de limão. Sem falar muito.

Hoje está sendo um dia difícil.

Parece que sinto falta dele, principalmente, em dias difíceis...